Nestes últimos instantes de 2009, pensava em algo para escrever, tentando marcar o encerramento de mais um ano, uma década, a primeira do século XXI. Na verdade, faltou-me originalidade para fazer isso. Não, eu não queria colocar aqui uma lista do que quero fazer em 2010, as famosas metas a serem atingidas. Até porque no fim do ano acabo esquecendo tudo o que eu prometi, ou pensei em fazer durante o ano.
Claro, o fato de não colocar aqui essas metas não significa que não as tenho. Mas, queria realmente refletir sobre essas metas, refletir sobre o que eu preciso mudar em mim, na forma de agir e ver o mundo, de tratar as pessoas.
Enfim, busquei em meus autores preferidos algo que dissesse o que eu tenho pensado neste fim de ano. Recordo-me que antes de iniciar 2009, coloquei aqui o poema Receita de Ano Novo, de Drummond, que com certeza vale a pena ser relido antes de continuar com o restante deste post.
Este ano escolhi uma crônica de Martha Medeiros, autora que li muito este ano e pela qual me apaixonei. E espero que todos os meus leitores e amigos gostem e se questionem: O que é que você quer? Eu estou fazendo este questionamento e elegendo minhas prioridades.
Desejo que cada um eleja as suas, e corra atrás (ou na frente, quem sabe, rsrsrsrsrs) para fazer com que elas se tornem realidade. Que 2010 seja um ano de realizações para cada um que lê as minhas palavras neste blog, e que no final deste ano que vai começar, possamos juntos analisar tudo o que passou e ver se de fato chegamos ao fim satisfeitos com tudo o que conseguimos. E claro, que a necessidade de escrever só aumente com o passar dos dias e que venham posts maravilhosos pela frente.
Bruta Flor do Querer
"Quando era menino, o pintor mexicano Diego Rivera entrou numa loja, numa daquelas antigas lojas cheias de mágicas e surpresas, um lugar encantado para qualquer criança. Parado diante do balcão e tendo na mão apenas alguns centavos, ele examinou todo o universo contido na loja e começou a gritar, desesperado: "O que é que eu quero???"
Quem nos conta isso é Frida Khalo, sua companheira por mais de 20 anos. Ela escreveu que a indecisão de Diego Rivera o acompanhou a vida toda. Ao ler isso, me perguntei: quem de nós sabe exatamente o que quer?
A gente sabe o que não quer: não queremos monotonia, não queremos nos endividar, não queremos perder tempo com pessoas mesquinhas, não queremos passar em branco pela vida. Mas a pergunta inicial continua sem resposta: o que a gente quer, o que iremos escolher entre tantas coisas interessantes que nos oferece esta loja chamada Futuro? Sério, a loja em que o pequeno Diego entrou chamava-se, ironicamente, Futuro.
O que é que você quer? Múltiplas alternativas. Medicina. Arquitetura. Música. Homeopatia. Casar. Ficar solteiro. Escrever um livro. Fazer nada o dia inteiro. Ter dois filhos. Ter nenhum. Cruzar o Brasil de carro. Entrar para a política. Tempo pra ler todos os livros do mundo. Conhecer a Grécia. Morar na Grécia. Morrer dormindo. Não morrer. Aprender chinês. Aprender a tocar bateria. Desaprender tudo o que aprendeu errado. Acupuntura. Emagrecer. Ser famoso. Sumir.
O que você quer? Morar na praia. Filmar um curta. Arrumar os dentes. Abrir uma pousada. Recuperar a amizade com seu pai. Trocar de carro. Meditar. Aprender a cozinhar. Largar o cigarro. Nunca mais sofrer por amor. Nunca mais.
O que você quer? Viver mais calmo. Acelerar. Trancar a faculdade. Cursar uma faculdade. Alta na terapia. Melhorar o humor. Um tênis novo. Engenharia química. Um mundo mais justo. Cortar o cabelo. Alegrias. Chorar.
Abra a mão, menino, deixa eu ver quantos centavos você tem aí. Olha, por esse preço, só uma caixinha vazia, você vai ter que imaginar o que tem dentro.
Serve."
MEDEIROS, Martha. Bruta flor do querer. In: Montanha Russa. Porto Alegre: L&PM, 2006.
FELIZ 2010 A TODOS! e ATÉ O PRÓXIMO ANO...RS