segunda-feira, 8 de abril de 2013

Assumir-se.

Em tempos de Daniela Mercury se assumindo, Felicianos e Joelmas da vida "metendo o pau nos gays", analiso como hoje eu estou referente a minha sexualidade, ou identidade sexual, ou orientação, ou seja lá o que for: gosto de homem e acabou.
Para alguns sinto-me à vontade para assumir numa boa. Para outros que fingem ser tolerantes ou simpáticos à causa, eu deixo por conta deles decidirem isso. Exemplo: no trabalho todos devem desconfiar, ninguém nunca me perguntou e eu nunca assumi nada pra ninguém, e só conversei abertamente sobre com uma colega de trabalho. Mas o que o restante pensa ou deixa de pensar, pouco me importa.
No entanto, uma pessoa que sempre achei imprescindível ter uma conversa sobre este assunto é minha mãe. Alguns me dizem que não devo conversar nada neste sentido com ela, e viver minha vida. Ainda mais morando longe, em outro Estado. Vejo outras pessoas que contaram sobre sua orientação aos pais e conseguiram verdadeiros amigos, aliados, um colo para onde correr sempre que a dor apertar, no quesito coração ferido, solidão, etc. Meu pai faleceu em 2011 e mesmo tendo permanecido com ele nos seus últimos 30 dias de vida, este não foi um assunto abordado entre nós.
Minha mãe já estava separada do meu pai quando ele faleceu, e percebo hoje que estou muito mais ligado a ela depois dos últimos acontecimentos. Problemas em família, alegrias, tristezas, tudo ela conversa comigo, num excesso de palavras que antes não existia. Estou adorando isso e por causa disto me senti mais à vontade para preparar o terreno e conversar com ela sobre minha homossexualidade, sobre as dores de ser muito sozinho morando em SP, de não ter um namorado, um companheiro, de como sinto falta de um colo de mãe nestes momentos...
Ultimamente ela tem lido muito e por isso mandei pra ela ano passado um livro espírita que conta a história de um menino gay, e as agruras que este passou em sua descoberta, e qual a reação da família. Quando questionei se ela leu, minha mãe disse que sim, e comentou o quanto o menino sofreu. Depois disso, alguns comentários aqui, outros ali. Outro dia o "Encontro com Fátima Bernardes" debatia justamente a situação dos filhos que assumem sua homossexualidade e a reação dos pais. Quando vi o tema do programa, imediatamente liguei pra ela, que me disse que estava assistindo. E não conversei muito para não atrapalhá-la.
Minha mãe já sabe que seu filho mais velho é gay, e acho que justamente por saber ela não se opôs quando decidi vir morar em SP. Na Bahia, ela ainda mora na cidadezinha do interior onde fui criado, e até pouco tempo atrás ainda exercia a profissão de professora, na qual trabalhou durante 30 anos e agora se aposentou. Portanto, hoje ela tem 50 anos, três filhos, está solteira novamente, e tem ainda alguns bons anos para curtir a vida, e a aposentadoria. Por ter feito faculdade tardiamente (ela concluiu a graduação quando eu estava no 6º semestre da minha faculdade), acabou por conhecer muita gente, viver no ambiente universitário durante um bom tempo e por isso acabou se abrindo para muitas coisas que as pessoas da cidadezinha em que vive e a própria família não aceitam, não entendem bem. Por isso, acredito que a forma como ela pensa não condiz com o julgamento que as mentes tacanhas daquela cidade fazem a respeito dos homossexuais. E por isso, ela me apoiou quando eu quis morar em outra cidade, longe da língua daquelas pessoas, do que elas vão falar, do julgamento que irão fazer.
Como minha mãe nunca viajou para tão longe como São Paulo, e por estar aposentada e com todo tempo do mundo para viajar, planejei sua vinda para cá no fim de maio, quando entro de férias. Portanto, dia 31/05 ela chega e fica 09 dias por aqui, e retorno com ela pra Bahia para curtir um merecido descanso. Estou ansioso pra que ela venha, pois teremos uma semana de programação bem mãe e filho e será nesta semana que ela irá conhecer melhor minha realidade em SP, meus amigos (poucos), meu trabalho, onde moro, os lugares que frequento e que mais amo nesta cidade que escolhi para morar. E será nesta viagem também que quero conversar com ela sobre mim, sobre minha homossexualidade, e sobre ela também: uma mulher que ficou casada por quase 25 anos com um homem bom, que só não foi melhor devido ao vício do alcoolismo e que hoje está solteira, na meia idade e tem todo o meu apoio para encontrar e viver um novo amor (caso queira), e que na minha concepção deve aproveitar agora todos os dias da vida e viajar, e aprender coisas novas, e curtir a vida.
Não vejo a hora que maio, ou melhor, que o fim de maio chegue logo. Acredito que terei boas surpresas nestes dias que passarei com minha mãe em aqui em SP e serão dias inesquecíveis.

Abraços e boa semana pra todos!